nossa lita, você escreve tão profundamente que eu nunca imaginaria que você tem 22 anos… sinto muito por isso, sinto muito por mulheres que vieram depois de mim precisarem passar pelas coisas que eu passei. tenho uma irmã de 18 anos e só consigo te ver assim desde que li seu primeiro texto, como alguém que eu, como mulher, deveria proteger de passar as coisas que todas nós acabamos passando. vendo as suas reflexões no fim, fico feliz que você agora possa cuidar também das que virão ❣️
Muito obrigada pelo elogio! Também carrego o mesmo sentimento por meninas mais novas <3 temos que cuidar pra não jogar fora toda essa luta exaustiva e progresso que fizemos ao longo dos anos como mulheres.
eu tenho uns anos a mais que você e eu jurava a minha geração ia ser a última a sofrer com isso. mas sei lá, sou old millenial e a gente cresceu com aquela impressão de que as coisas só mudam pra melhor, o que a gente sabe hoje que não é verdade.
como você compartilhou uma história tão íntima, eu vou compartilhar outra história em troca: quando eu tinha 12 anos, lá no século XX, os meninos também comentavam sobre os nossos corpos. e assim como você, eu também passei um ano inteiro indo pra escola de casaco. mas o que eu não esperava era que no fim de uma aula, naquela confusão de crianças arrumando a mochila para ir embora, um menino da sala chegou bem perto de mim, apertando os olhos. depois um tempo olhando fixamente pra mim ele olhou pra trás e disse para uns meninos que estavam mais perto da porta da sala: "ela tem mesmo bigode".
desde aquele dia eu fiquei 100% obcecada em tirar os pelos do meu rosto. eu tive então a excelente ideia de pegar o satinele da minha mãe (que era meio antigo, ela tinha comprado em algum momento dos anos 80 e no lugar daquelas rodinhas de cerâmica tinha uma mola de metal) e tentar tirar meu bigode com ele. como ardeu bastante, eu fui na geladeira e peguei um cubo de gelo para tentar fazer aquela dor parar, mas o que eu fiz na verdade foi queimar a minha pele e - adivinha? - fiquei por um tempo com uma mancha no rosto que parecia um bigode. acho esse período dos 12/13 anos a pior fase da adolescência. a melhor coisa da adolescência é quando ela acaba.
hoje em dia eu também faço depilação a laser. dói, mas a gente aprende a lidar com a dor de um jeito meio estranho né. enfim. eu queria muito que as nossas gerações não passassem nossos traumas pra frente, mas eu tenho certeza que nesse exato momento, em algum lugar, tem uma menina de doze anos tendo uma péssima experiência na primeira depilação.
Oi, Anacê! Acho que a gente sempre acha que nossa geração vai ser a última, tenho uma irmã mais nova e aqui em casa pelo menos não é uma experiência muito melhorada do que eu narrei. Mas, infelizmente na escola e outros ambientes não temos controle, ainda mais agora que os jovens estão cada vez mais conservadores. Obrigada por compartilhar sua história aqui também, sinto muito que tenha passado por isso. De fato, a melhor coisa da adolescencia é o fim.
Adorei o texto, Lita! Me tocou de verdade. Sempre me depilei com gilete, desde muito novinha, porque minha mãe fazia assim. Mas ela tinha poucos pelos, bem fininhos e loiros, enquanto os meus são mais escuros e em maior quantidade. Então, a gilete virou um hábito automático, até que, aos 23 anos, comecei a ter foliculite do nada. Nunca tinha passado por isso, e foi horrível.
Foi aí que decidi tentar a famosa depilação com cera. Meu Deus… acho que nunca senti tanta dor na vida. Mas quando terminei, olhei no espelho e vi tudo simetricamente depilado, lisinho, "perfeito". Perfeito pra quem? Kkkkkk
Lembro que, na minha primeira vez, contei pra depiladora que eu estava muito nervosa, como se estivesse prestes a perder a virgindade. Na real, acho que quando perdi a virgindade, eu estava muito menos nervosa do que naquele dia kkkkkk detalhe é que o nome da depiladora era Viviane, igual ao da minha mãe. Coincidência engraçada. A dor foi surreal, mas continuei indo… e a que custo?
Pensei no laser, mas, sinceramente, me depilar é um saco. A coceira, a irritação, aquela sensação esquisita quando os pelos começam a crescer de novo. Quando deixo os pelos compridos, me sinto tão mais confortável com meu próprio corpo. Só que, ao mesmo tempo, bate aquela sensação de que "deveria" me depilar. Mas por quê? Engraçado que os homens não têm essa mesma cobrança, né? E fisiologicamente quem não tem pelos são crianças. E a gente passa a vida tentando apagar qualquer traço que mostre que crescemos e somos mulheres adultas… enfim
Gilette foi um trauma pra mim, minha mãe só chegou um dia e tentou me depilar a força meudeus precisou eu ir na médica e ela me falar que tava tudo bem pq minha mãe não sabia como me ajudar
foi a primeira vez que eu vi a minha avó chorar por minha causa e, sinceramente, acho que doeu mais do que seu tivesse me rendido a depilação quando ela pediu.
Essa parte me pegou muito pois também lembro da vez em que fiz minha vó chorar e sinto uma dor no peito até hoje.
tenho muito pelo nas pernas e me depilei 2x, sendo uma com cera e uma com gilette, ambas traumatizantes. onde dá pra passar gilette eu passo, mas de resto eu sigo peluda desde os 12 também, e nenhum comentário me dói mais do que deitar numa maca pra encarar 1h de cera. eu acho HUMILHANTE ter que arrancar os pelos de cada centímetro do meu corpo, sofrendo horrores e pagando milhões.
Gostei muito de como você escreve. É uma doideira como, mesmo sabendo dessas problemáticas, a gente ainda se rende à depilação, dietas e maquiagem. Um desespero que parece que só a gente vê.
Mesmo tentando proteger as meninas mais novas da família, em algum momento existe a falha, porque sempre vai ter alguém (escola, faculdade, etc) que vai se sentir confortável para apontar algo nas mulheres. Algo que a faz sentir suja e menos digna. E é aí que essa narrativa se entranha nas garotas.
Que coisa linda!! Texto fortíssimo cara meu deus. Incrível. Sinto muito por isso, mil vezes. E chocante que você COMEÇOU por um satinelle; até hoje não tive coragem de testar. Infelizmente a gente segue escrava do padrão de beleza, né, não importa a geração.
Que texto! Incrível como mesmo tendo acesso a informação, mesmo consumindo conteúdos sobre feminismo, a gente ainda acaba cedendo a algumas normas sociais impostas às mulheres, né. Hoje em dia eu também faço depilação a laser por causa de foliculite intensa pelo uso da lâmina e sempre me questiono se essa é uma questão minha ou a rendição a conceitos sociais rígidos impostos as mulheres, talvez seja um pouco dos dois, torço que as próximas gerações não tenham que sofrer tanto com isso.
nossa lita, você escreve tão profundamente que eu nunca imaginaria que você tem 22 anos… sinto muito por isso, sinto muito por mulheres que vieram depois de mim precisarem passar pelas coisas que eu passei. tenho uma irmã de 18 anos e só consigo te ver assim desde que li seu primeiro texto, como alguém que eu, como mulher, deveria proteger de passar as coisas que todas nós acabamos passando. vendo as suas reflexões no fim, fico feliz que você agora possa cuidar também das que virão ❣️
Muito obrigada pelo elogio! Também carrego o mesmo sentimento por meninas mais novas <3 temos que cuidar pra não jogar fora toda essa luta exaustiva e progresso que fizemos ao longo dos anos como mulheres.
eu tenho uns anos a mais que você e eu jurava a minha geração ia ser a última a sofrer com isso. mas sei lá, sou old millenial e a gente cresceu com aquela impressão de que as coisas só mudam pra melhor, o que a gente sabe hoje que não é verdade.
como você compartilhou uma história tão íntima, eu vou compartilhar outra história em troca: quando eu tinha 12 anos, lá no século XX, os meninos também comentavam sobre os nossos corpos. e assim como você, eu também passei um ano inteiro indo pra escola de casaco. mas o que eu não esperava era que no fim de uma aula, naquela confusão de crianças arrumando a mochila para ir embora, um menino da sala chegou bem perto de mim, apertando os olhos. depois um tempo olhando fixamente pra mim ele olhou pra trás e disse para uns meninos que estavam mais perto da porta da sala: "ela tem mesmo bigode".
desde aquele dia eu fiquei 100% obcecada em tirar os pelos do meu rosto. eu tive então a excelente ideia de pegar o satinele da minha mãe (que era meio antigo, ela tinha comprado em algum momento dos anos 80 e no lugar daquelas rodinhas de cerâmica tinha uma mola de metal) e tentar tirar meu bigode com ele. como ardeu bastante, eu fui na geladeira e peguei um cubo de gelo para tentar fazer aquela dor parar, mas o que eu fiz na verdade foi queimar a minha pele e - adivinha? - fiquei por um tempo com uma mancha no rosto que parecia um bigode. acho esse período dos 12/13 anos a pior fase da adolescência. a melhor coisa da adolescência é quando ela acaba.
hoje em dia eu também faço depilação a laser. dói, mas a gente aprende a lidar com a dor de um jeito meio estranho né. enfim. eu queria muito que as nossas gerações não passassem nossos traumas pra frente, mas eu tenho certeza que nesse exato momento, em algum lugar, tem uma menina de doze anos tendo uma péssima experiência na primeira depilação.
Oi, Anacê! Acho que a gente sempre acha que nossa geração vai ser a última, tenho uma irmã mais nova e aqui em casa pelo menos não é uma experiência muito melhorada do que eu narrei. Mas, infelizmente na escola e outros ambientes não temos controle, ainda mais agora que os jovens estão cada vez mais conservadores. Obrigada por compartilhar sua história aqui também, sinto muito que tenha passado por isso. De fato, a melhor coisa da adolescencia é o fim.
ai, nada me preparou para o conservadorismo dos jovens a esta altura do campeonato. mas vamos estar aqui para ver o pêndulo se mover de novo!
eu AMO tudo o que vc escreve, incluindo isso. muito bom, vc é maravilhosa
ITI MALIA, que bom que gostou e muito obrigada por comentar <333
Adorei o texto, Lita! Me tocou de verdade. Sempre me depilei com gilete, desde muito novinha, porque minha mãe fazia assim. Mas ela tinha poucos pelos, bem fininhos e loiros, enquanto os meus são mais escuros e em maior quantidade. Então, a gilete virou um hábito automático, até que, aos 23 anos, comecei a ter foliculite do nada. Nunca tinha passado por isso, e foi horrível.
Foi aí que decidi tentar a famosa depilação com cera. Meu Deus… acho que nunca senti tanta dor na vida. Mas quando terminei, olhei no espelho e vi tudo simetricamente depilado, lisinho, "perfeito". Perfeito pra quem? Kkkkkk
Lembro que, na minha primeira vez, contei pra depiladora que eu estava muito nervosa, como se estivesse prestes a perder a virgindade. Na real, acho que quando perdi a virgindade, eu estava muito menos nervosa do que naquele dia kkkkkk detalhe é que o nome da depiladora era Viviane, igual ao da minha mãe. Coincidência engraçada. A dor foi surreal, mas continuei indo… e a que custo?
Pensei no laser, mas, sinceramente, me depilar é um saco. A coceira, a irritação, aquela sensação esquisita quando os pelos começam a crescer de novo. Quando deixo os pelos compridos, me sinto tão mais confortável com meu próprio corpo. Só que, ao mesmo tempo, bate aquela sensação de que "deveria" me depilar. Mas por quê? Engraçado que os homens não têm essa mesma cobrança, né? E fisiologicamente quem não tem pelos são crianças. E a gente passa a vida tentando apagar qualquer traço que mostre que crescemos e somos mulheres adultas… enfim
Texto lindo, simbólico e materializa demais a nossa vivência enquanto mulheres. Estou com lágrimas nos olhos ao ler isso.
Lita vc escreve muito bem, sério
Foi um texto tão vívido que estou há 5 minutos sem saber o que fazer e em choque
Gilette foi um trauma pra mim, minha mãe só chegou um dia e tentou me depilar a força meudeus precisou eu ir na médica e ela me falar que tava tudo bem pq minha mãe não sabia como me ajudar
foi a primeira vez que eu vi a minha avó chorar por minha causa e, sinceramente, acho que doeu mais do que seu tivesse me rendido a depilação quando ela pediu.
Essa parte me pegou muito pois também lembro da vez em que fiz minha vó chorar e sinto uma dor no peito até hoje.
tenho muito pelo nas pernas e me depilei 2x, sendo uma com cera e uma com gilette, ambas traumatizantes. onde dá pra passar gilette eu passo, mas de resto eu sigo peluda desde os 12 também, e nenhum comentário me dói mais do que deitar numa maca pra encarar 1h de cera. eu acho HUMILHANTE ter que arrancar os pelos de cada centímetro do meu corpo, sofrendo horrores e pagando milhões.
Gostei muito de como você escreve. É uma doideira como, mesmo sabendo dessas problemáticas, a gente ainda se rende à depilação, dietas e maquiagem. Um desespero que parece que só a gente vê.
Mesmo tentando proteger as meninas mais novas da família, em algum momento existe a falha, porque sempre vai ter alguém (escola, faculdade, etc) que vai se sentir confortável para apontar algo nas mulheres. Algo que a faz sentir suja e menos digna. E é aí que essa narrativa se entranha nas garotas.
Que coisa linda!! Texto fortíssimo cara meu deus. Incrível. Sinto muito por isso, mil vezes. E chocante que você COMEÇOU por um satinelle; até hoje não tive coragem de testar. Infelizmente a gente segue escrava do padrão de beleza, né, não importa a geração.
caramba, você escreve muito bem! tô animada pra acompanhar mais posts seus :D
Que texto! Incrível como mesmo tendo acesso a informação, mesmo consumindo conteúdos sobre feminismo, a gente ainda acaba cedendo a algumas normas sociais impostas às mulheres, né. Hoje em dia eu também faço depilação a laser por causa de foliculite intensa pelo uso da lâmina e sempre me questiono se essa é uma questão minha ou a rendição a conceitos sociais rígidos impostos as mulheres, talvez seja um pouco dos dois, torço que as próximas gerações não tenham que sofrer tanto com isso.